sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

E por falar em saudade



Tenho escrito muito sobre saudade. Lembranças da infância, do meu pai, das cosias boas que vivi. Pode ser o avanço da idade. A maturidade se aproxima e percebi, enfim, que não sou mais adolescente. Meu filho fez vinte anos, está na hora de me tornar adulto.

No momento em que decidi mudar o tom, abraçar o carnaval e escrever sobre o futuro, sobre festas, a alegria da vida, chega a notícia: um amigo de infância morreu aos 36 anos. Triste notícia.

Quando alguém tão novo morre é comum nos perguntarmos o porquê; qual o sentido? Nessa hora, é curioso notar, também, que o questionamento que a humanidade julga como essencial é justamente a respeito do sentido da vida.

Nunca me debrucei sobre essas perguntas. Tampouco busquei, para elas, respostas na filosofia, literatura, religião, matemática, futebol, samba e roquenrou. Depois que o Rafael morreu, no entanto, tenho pensado no assunto.

Parece-me que a única resposta viável é que o sentido da vida é a própria vida. É dar objetivo à existência. Viver da melhor forma possível até que a chama piloto se apague de vez (para além de questões meramente religiosas).

Pessoas preferem viver em contato com a natureza, pessoas preferem ir a estádios de futebol, pessoas preferem escrever livros, pessoas preferem dedicar a vida a causas humanitárias, à causa animal, ambiental, política. Essa devoção é o caminho e quem vive aquilo que ama já encontrou o próprio significado.

Macaco Prego nas Paineiras: Foto de Rafael P. Brandão que compartilhei na minha time line do Facebook

Não pretendia fazer dessa crônica um epitáfio, mas depois de chegar a essa conclusão e assistir às muitas homenagens prestadas ao amigo morto, rever as centenas de fotografias que ele produziu nas dezenas de viagens que fez pelo país buscando precisamente o melhor registro do lugar mais bonito que pudesse visitar, sou forçado a concluir que, antes de mim, ele já havia encontrado a resposta. Ele sabia viver e estava apreciando cada momento.

Não à toa, na última vez em que estivemos pessoalmente juntos (nos encontramos por acaso no metrô), ele veio em minha direção e eu estendi a mão. Como era de sua índole, ele sorriu e preferiu abrir os braços. Em seguida, veio um abraço apertado, coisa de quem está satisfeito, realizado. Coisa de gente feliz e que ama.

Já, quanto ao questionamento naturalmente indignado de quem vê alguém assim deixar a vida precocemente e que deu origem a essa crônica, a única resposta viável é que se trata da exata oposição. A interrupção da vida é a ausência de sentido (para além das questões meramente religiosas, que fique claro), é a ausência de respostas. A vida, uma página em branco; a morte, a página que falta.

E o que resta mesmo é a saudade, e que saudade!